
Há algo que a ciência ainda não explica por completo, mas que quem trabalha nos corredores silenciosos dos hospitais conhece bem: a melhora antes da morte.
É um fenômeno tão misterioso quanto comovente. O corpo, frágil há semanas, se reanima. A voz, antes apagada, volta a dizer nomes. Os olhos, que já pareciam se despedir do mundo, brilham mais uma vez com lucidez. O doente sorri. Pede comida. Pergunta pelas pessoas. Às vezes, até levanta da cama, agradece, ou pede perdão. E quem está por perto se enche de esperança, acreditando que o pior passou.
Mas a verdade é que a alma estava apenas se despedindo.
Essa súbita melhora, que os médicos chamam de melhora paradoxal ou melhora terminal, é o último sopro de vida antes do fim. Como se o corpo reunisse suas últimas forças para que a pessoa possa encerrar a própria história com dignidade. Um último abraço. Uma última conversa. Um último “eu te amo”. E então, o silêncio.
Para muitos, é um alívio cruel. Um presente amargo. Porque onde houve luz, em breve haverá luto.
Mas para outros, é também uma chance. Uma janela que se abre por instantes, permitindo que o adeus não seja dito às pressas, mas com presença. Que as palavras fiquem. Que o toque seja sentido. Que o amor se manifeste — ainda que seja na beira do fim.
Há coisas que nem a medicina explica, mas o coração entende.
Talvez, no fundo, essa breve melhora seja a forma mais humana de morrer: sendo lembrado não pelo sofrimento, mas pela última vez em que se viveu — com lucidez, com gratidão, com amor.
Autor: Erivaldo Kassapa