O grupo de remo O River comemorou no último fim de semana três décadas de existência. A data foi lembrada com um encontro dos membros da equipe que fez a primeira expedição de sua história em abril de 1993, percorrendo cerca de 150 quilômetros pelos rios do Peixe e Paraná, entre os municípios de Santo Expedito e Presidente Epitácio. E Epitácio foi a cidade escolhida para este momento que reuniu as famílias dos integrantes para confraternizar e principalmente remar nas águas do rio Paraná.
Ao longo desses anos, o grupo O River percorreu mais de 3.000 quilômetros de expedições a remo por onze rios do oeste paulista e leste do Mato Grosso do Sul, entre 1993 e 2003, conhecendo lugares que desapareceram ou foram impactados pela formação do lago de Porto Primavera da hidrelétrica Sérgio Motta. Entre os principais rios pesquisados estão o Peixe, Aguapei, Santo Anastáscio, Paranapanema, Laranja Doce e Anhumas no oeste paulista, além dos rios Inhanduí, Pardo, Verde e Taquaruçu em Mato Grosso do Sul.
Foram quase trinta expedições que resultaram no livro “Afluentes – 3.000 quilômetros de expedições a remo”, escrito por Luís Augusto Pires Batista, um dos membros do grupo, lançado em dezembro de 2008. Em 439 páginas, a obra narra detalhadamente cada expedição, promovidas prtincipalmente com o objetivo de documentar por meio de imagens, fotos e textos as partes mais baixas destes rios, que foram inundadas pelas águas do reservatório de Primavera.
Depois deste período as viagens foram diminuindo, principalmente pela separação de muitos integrantes do grupo, que se mudaram de Presidente Prudente. Mesmo assim, vários trabalhos de observação foram feitos, acompanhando as mudanças destes mananciais com o enchimento do reservatório da hidrelétrica Sérgio Motta, além da implementação de novas áreas de reserva, criadas como forma de compensação pelos efeitos gerados pelo lago nas margens do rio Paraná entre São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Nos últimos anos as expediçõies e os passeios a remo voltaram a ficar mais frequentes. Apesar de alguns membros não mais remarem por problemas diversos, boa parte do grupo voltou a colocar os barcos na água. Os primeiros testes começaram no Balneário da Amizade, que fica entre Presidente Prudente e Álvares Machado. Depois retornamos à represa do rio Laranja Doce, em Martinópolis, além de passagens pelo rio do Peixe e Paraná, em Presidente Epitácio.
“A volta das nossas expedições nos últimos anos já mostraram que vale a pena revisitar estes rios e lugares que percorremos há tantos anos atrás,” afirma Marcos Trentin, um dos criadores do grupo O River. “Não temos mais a mesmo saúde para voltar a remar como antigamente, mas podemos nos utilizar de outros meios de apoio para observar os lugares mais importantes,” afirma Valter Crepaldi Ganancio, outro pioneiro do grupo.
E essa perspectiva está levando o grupo O River a pensar numa possível segunda edição do livro Afluentes, mas agora fazendo uma releitura do que se transformou o lago de Porto Primavera e o seu entorno, tanto do ponto de vista das suas principais comunidades, assim como mostrar os resultados de preservação conseguidos nas áreas de proteção da flora e da fauna que foram criadas.
GRUPO SE UNIU EM TORNO DA AMIZADE DO REMO E DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DOS RIOS DO OESTE PAULISTA
Sempre que o pessoal se depara com o nome do grupo há uma grande curiosidade para saber a origem de O River. Como descrito no proprio livro Afluentes, logo nos primeiros passeios a remo quie fizemos pelo rio do Peixe, um dos membros do grupo gritou que tudo aquilo era muito “horriver”, diante do alto grau de assoreamento do rio onde se formavam bancos de areia nas suas margens. Este mixto de horrível no sotaque caipira com rio em inglês foi como fomos batizados e assim ficamos conhecidos na região.
O grupo é formado por sete integrantes: Marcos Penteado Trentin, Valter Crepaldi Ganancio, Luís Augusto Pires Batista, Mirival Toledo Munhoz, Luiz Eduardo Viaccava, Mário Nogueira e Mário Marins, profissionais de formações diversas. Para este encontro os dois últimos membros não puderam participar. Mesmo assim a maioria dos integrantes se reuniu com as famílias para relembrar as passagens mais marcantes das viagens a remo e também falar do momento atual e das perspectivas futuras. Todas as três canoas canadenses e um dos caiaques do grupo também voltaram para a água. Eles percorreram a foz do rio Caiuazinho e também remaram até a prainha na orla de Epitácio para comemorar os 30 anos de história do grupo.
“Hoje nós formamos um grupo que se uniu em torno da nossa amizade, do remo e da preservação ambiental dos nossos rios. O trabalho que deixamos documentado no nosso livro, certamente vai servir para mostrar para as próximas gerações como eram esses afluentes do rio Paraná antes da formação desse imenso lago. Mas ainda há muita coisa que precisa ser melhorada,” afirmou Luiz Eduardo Viaccava.
Recentamente o grupo descobriu que a foz do rio do Peixe está sendo tomada pelo assoreamento e pelo grande volume de plantas aquáticas. “Essa situação parece ser grave, já que o rio do Peixe em sua foz se tornou um grande labirindo de pequenos riachos, o que pode comprometer o futuro deste manancial em definitivo. Criaram a Reserva Estadual do Rio do Peixe, mas não pretegeram essa área que fica entre a reserva e a foz do rio. E isso pode ser desatroso num futuro próximo,” concluiu Viaccava.
O ambientalista Djalma Weffort, presidente da Apeona – Associação de Proteção do Rio Paranáe Matas Ciliares, também participou das comemorações do grupo. Ele esteve em duas expedições feitas pelo grupo no rio Taquaruçu e chamou a atenção para a importância do legado deixado pelo O River. “Desde 1993 quando fizeram a primeira expedição e depois nas várias outras viagens, o grupo O River sempre chamou a atenção por levantar os problemas que viriam com a formação do lago de Primavera, enquanto muita gente em Epitácio e outras cidades da região não davam atenção para o que viria acontecer”, disse Djalma. Ele considera que hoje os objetivos sustentáveis do empreendimento mudaram bastante, mas ainda há muito a ser feito e o grupo pode dar outra grande contribuição.
Os 30 anos do grupo O River foram comemorados com bolo e teve direito até a velinhas e para quem participou do encontro garante que o mais importante é a amnizade que ficou. “Tivemos uma confraternização bem, simples, mas muito gostosa. Como é bom ver as novas gerações que estão surgindo também gostando de remar e conhecer esses rios que temos por aqui. Esperamos poder continuar contribuindo para o desenvolvimento da nossa região por meio do esporte, do turismo ecológico e sustentável, como forma de preservar as futuras gerações e recuperar parte dos danos e impactos da hidrelétrica. O fundamental é a valorização das coisas que consideramos mais importantes por aqui”, concluiu Marcos.








