Insetos não atacam lâmpadas apagadas

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Uma reflexão sobre o incômodo que causamos ao sermos luz em tempos de escuridão

Certa vez, em uma conversa atravessada pela dúvida e pela exaustão de ser quem se é, fiz uma pergunta a um sábio:
— Por que incomodo tanto as pessoas?

Ele me olhou com a serenidade de quem já viu o mundo girar muitas vezes e respondeu com calma desconcertante:
— Você já viu insetos atacarem uma lâmpada apagada?

Silêncio.

A frase caiu como uma revelação que não precisava de explicações. Mas ele completou:
— O que eles odeiam em você… é o que falta neles.

Naquela hora, compreendi uma coisa que nenhuma crítica ou julgamento havia conseguido me ensinar: a luz incomoda. E não é porque brilha demais, mas porque revela, destaca, aquece, inquieta.

A lâmpada acesa — seja no alto de um poste ou no canto de uma sala — atrai tudo: os que precisam de orientação e os que se incomodam com a clareza. Atrai borboletas e mosquitos. Admiração e inveja. Amor e desafeto. Mas jamais passa despercebida.

Muitos de nós passamos a vida tentando ajustar o brilho: ora apagando-se para caber em espaços pequenos, ora piscando timidamente para não chamar atenção, ora estourando de tanta força mal compreendida. O medo de incomodar vira o disfarce da nossa potência.

Mas a verdade é que a lâmpada não nasceu para agradar os insetos. Nasceu para iluminar.

É difícil aceitar que às vezes o incômodo que provocamos nos outros não é defeito nosso, mas espelho. Que quando alguém nos hostiliza sem motivo claro, talvez o problema não seja o que somos, mas o que representamos — a coragem que falta, a autenticidade que escancara, a vida vivida sem desculpas.

E se for mesmo isso? E se, em vez de nos diminuirmos, aceitássemos a missão de ser luz — mesmo que isso custe atrair alguns mosquitos pelo caminho?

Talvez devêssemos agradecer quando formigas nos evitam, pernilongos nos perseguem e vespas nos detestam. Afinal, só a lâmpada acesa causa esse efeito. A que está apagada… nem notada é.


Moral da história:
Se você incomoda, talvez seja porque está brilhando mais do que percebe. Siga iluminando. O mundo — mesmo cheio de insetos — precisa da sua luz.