Lenine Botigeli, especialista em Catarata e Glaucoma: “O tratamento deve ser feito nos estágios iniciais. É a cirurgia mais realizada no mundo”

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A Catarata é uma doença muito comum, principalmente em pessoas com idade mais avançada. O formato tradicional da Cirurgia de Catarata realizada com auxílio de bisturi para fazer as incisões assusta muita gente.

Oftalmologista da equipe da Visare Hospital de Olhos, especialista em Catarata e Glaucoma, o médico Lenine Botigelli fala nessa entrevista sobre as causas, sintomas, tratamentos e cirurgias das duas principais doenças oculares: a catarata e o glaucoma.

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A catarata é uma doença que aflige milhares de brasileiros, principalmente pessoas idosas. Mas o que é realmente a catarata?

A catarata é quando o Cristalino (lente natural dos olhos) localizado atrás da íris e que tem como função dar foco aos objetos nas diferentes distâncias, torna-se opaco, ou seja, perde-se sua transparência, dificultando a entrada da luz e consequentemente causando a perda progressiva da visão. É interessante saber que esta opacificação do cristalino faz parte do envelhecimento natural dos olhos (catarata senil), sendo de evolução lenta na maioria das vezes. Existem outros tipos de catarata, menos comuns, como a catarata congênita (apresenta-se ao nascimento) ou catarata secundária.

Como diagnosticar precocemente a catarata?

É muito importante realizar consultas oftalmológicas periódicas (anualmente), principalmente após os 50 anos de idade. O diagnóstico é feito de forma simples e rápida através do exame de biomicroscopia com lâmpada de fenda durante a consulta de rotina.

Quais fatores de risco levam a catarata?  Porque tem aumentado o numero de casos?

O principal fator de risco é a idade avançada, e o aumento gradual da expectativa de vida vem provocando consequente aumento da prevalência dessa enfermidade nas últimas décadas. Segundo a OMS, a incidência anual de catarata é estimada em 0,3% ao ano. Isso representaria, no Brasil, cerca de 550.000 novos casos de catarata por ano. Outros fatores de risco incluem alterações metabólicas que ocorrem em certas doenças sistêmicas (ex. Diabetes Mellitus), oculares (ex. uveíte), tabagismo, alcoolismo, secundária ao uso de certos medicamentos (ex. corticoides), exposição excessiva a radiações ultravioleta, ou a trauma ocular.

Como reconhecer os sintomas da Catarata?

Os principais sintomas da catarata são: sensação de visão embaçada, alteração contínua da refração (grau dos óculos), maior sensibilidade à luz, espalhamento dos reflexos ao redor das luzes e percepção que as cores estão desbotadas. Geralmente há uma piora da miopia com redução da visão em baixo contraste e baixa luminosidade (ao anoitecer).

E o tratamento?  Existe algo de novo para os pacientes no tocante ao tratamento da Catarata?

O tratamento da catarata é sempre cirúrgico, devendo ser feita preferencialmente nos estágios mais iniciais da doença. É a cirurgia mais realizada no mundo e uma das que mais evoluiu nas últimas décadas. O procedimento, apesar de ser considerado simples por muitos devido ao curto tempo cirúrgico (em torno de 10 a 15 minutos) e sua reprodutibilidade, exige muito aperfeiçoamento, destreza e tecnologia envolvida. Há pouco mais de 30 anos, a catarata era removida através de uma incisão ampla, seguida por implante de lente intraocular rígida e múltiplas suturas do globo ocular. Hoje a incisão é de cerca de dois milímetros, a catarata é emulsificada (fragmentada) em pequenos pedaços e aspirada por um aparelho chamado de facoemulsificador e a lente intraocular é dobrável com qualidades óticas cada vez mais avançadas. A incisão de pequeno tamanho e arquitetura auto selante, geralmente, dispensa a utilização de suturas. Trata-se de um procedimento microscópico de alta complexidade, é muito seguro, porém, como qualquer procedimento invasivo, não é isento de riscos. A anestesia é local podendo ser realizada somente com gotas anestésicas.

O que se tem de mais novo?

Na técnica mais moderna desta cirurgia, utiliza-se o laser de femtossegundo para realizar alguns passos do procedimento, como a confecção das incisões (evitando o uso de lâminas de bisturi), a retirada de uma parte da membrana que envolve o cristalino e a fragmentação da catarata, mas a aspiração dos fragmentos será realizada através do facoemulsificador.

O que é o glaucoma?

O glaucoma é uma doença do nervo óptico (neuropatia óptica) causada principalmente pela elevação da pressão intraocular (pressão dentro dos olhos), levando a uma perda progressiva das fibras nervosas e consequentemente a perda da visão, sendo esta irreversível.

Quais são os tipos de glaucoma?

Existem várias classificações da doença, mas podemos dividir basicamente em:

– Glaucoma Primário de Ângulo Aberto (tipo mais comum – 80% dos casos);

– Glaucoma Primário de Ângulo Fechado (ocorre um bloqueio na drenagem do líquido que circula dentro do olho, causando um aumento súbito da pressão intraocular);

– Glaucoma Secundário (ex: pós trauma ocular, uveíte, catarata);

– Glaucoma Congênito (mais raro – presente ao nascimento por uma anomalia anatômica do olho);

Quais os sintomas?

Na maioria dos casos (glaucoma de ângulo aberto) a doença não apresenta sintomas, já que na fase inicial afeta a visão periférica e a pessoa não percebe, e a pressão intraocular não é alta o suficiente para causar dores oculares. A perda da visão central só ocorre nos estágios mais avançados da doença.

Nos casos de glaucoma de ângulo fechado “agudo”, é comum dor ocular súbita e intensa com embaçamento visual.

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“PRIMEIRA CAUSA DA CATARATA

É A IDADE. O DIAGNÓSTICO É FEITO

DE FORMA SIMPLES E RAPIDA

ATRAVÉS DO EXAME DE BIOMICROSCOPIA”

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Quais os fatores de risco?

O principal fator de risco para o desenvolvimento do glaucoma é a pressão intraocular elevada (acima de 21mmHg). Mas deve-se levar em conta pessoas acima de 40 anos, histórico de glaucoma na família, alta miopia, raça negra, diabetes, após trauma ocular, uso contínuo de corticóides.

Como é feito o diagnóstico? É possível detectar o problema em exames oftalmológicos de rotina?

O diagnóstico é feito em consulta de rotina, através da medição da pressão intraocular com um aparelho chamado tonômetro de aplanação, juntamente com a avalição do nervo óptico pelo exame do fundo de olho. Em casos suspeitos ou confirmados, é necessário realizar exames mais específicos como campimetria, paquimetria, gonioscopia, tomografia de coerência óptica e retinografia.

Como é o tratamento?

O tratamento se baseia na redução da pressão intraocular, tendo cada indivíduo uma pressão alvo. Na maioria das vezes conseguimos ter sucesso no controle da doença apenas com o tratamento clínico, através do uso de colírios hipotensores. Há também opções de tratamento à laser como a trabeculoplastia seletiva a laser (SLT). Em caso de não conseguirmos o controle da pressão com o tratamento clínico, é necessário a realização da cirurgia, sendo a mais comum a trabeculectomia. Há cura ou apenas meios de controlar a doença? Por ser uma doença crônica, não tem cura. No entanto, pode ser controlada.

Qual a diferença entre glaucoma e catarata?

São enfermidades diferentes (a primeira afeta o nervo óptico, a outra o cristalino), mas podem uma ser a causa da outra e serem diagnosticadas juntas, sendo às vezes necessário a chamada cirurgia combinada (facotrabeculectomia).

Há alguma faixa etária mais atingida pelo glaucoma?

Idade avançada, sendo um dos fatores de risco.

Quais as consequências caso a doença não seja tratada?

Se não tratada a doença evolui para a cegueira, sendo esta irreversível. As fibras nervosas do nervo óptico não se regeneram.