
O risco de um mundo exclusivamente digital
O apagão que atingiu Portugal e Espanha nesta semana escancarou um risco silencioso que ronda as grandes cidades modernas: a dependência quase total da tecnologia. Foram cerca de dez horas sem energia elétrica em Lisboa — e bastou isso para que o cotidiano de milhares de pessoas colapsasse. Transporte público paralisado, comércios fechados, comunicações comprometidas, pessoas presas em elevadores, longas caminhadas sob o calor e hospitais operando com geradores de emergência.
O episódio serve de sinal amarelo para o resto do mundo: não estamos preparados para viver off-line. A digitalização de serviços, meios de pagamento, mobilidade e até do acesso à água e alimentos nos tornou vulneráveis. Um simples blecaute é capaz de nos isolar, desorganizar e, em casos extremos, comprometer vidas.
Ironia ou não, semanas antes do apagão, a própria Comissão Europeia havia emitido um alerta pedindo que cidadãos mantivessem kits de sobrevivência para ao menos 72 horas em caso de emergências — incluindo lanternas, pilhas, rádios analógicos e água potável. Itens que pareceriam obsoletos em tempos de Wi-Fi e QR code, mas que se tornaram essenciais quando tudo falhou.
O que aconteceu na Península Ibérica não é apenas uma falha de infraestrutura. É um convite à reflexão: até onde podemos confiar em um mundo totalmente digital sem garantias analógicas de sobrevivência? A modernidade não pode prescindir da resiliência.
Talvez seja hora de reaprender o básico — antes que a próxima falha nos pegue desprevenidos.