
Na selva urbana do nosso trânsito, o tempo se tornou um inimigo. Cada segundo de espera é um insulto, e a paciência, uma virtude em extinção. O que nos transformou em motoristas tão nervosos? Que fúria é essa que nos assombra, fazendo com que a menor fricção se transforme em um duelo de buzinas e impropérios?
A cena se desenrola na Avenida Manoel Goulart, perto da rotatória. Um cidadão, talvez apressado demais para chegar a lugar nenhum, tenta uma ultrapassagem pela direita. Uma manobra perigosa, arriscada, que ignora as leis não escritas de convivência no asfalto. Ele se espreme, impaciente, mas o espaço não existe. Eu, na minha mão, sigo a linha reta, sem dar brecha, sem abrir espaço. Pelo retrovisor, vejo a frustração estampada em seu rosto. A impaciência se traduz em manobras ainda mais agressivas.
Ele finalmente emparelha com meu carro. E então, como uma erupção de lava, jorram os impropérios mais baixos e agressivos. Ele grita, gesticula, despeja toda a sua raiva em minha direção. A mim, coube apenas a serenidade de respirar fundo e não responder. A batalha, para ele, era comigo. Para mim, era apenas o barulho de um motorista em crise.
Ele continuou sua sanha até o Cristo, tentando, a todo custo, arrancar uma reação de mim. Em resposta, fechei o vidro do carro e segui meu caminho, tranquilo. Ele, por sua vez, ganhou pontos extras de estresse, aumentou sua pressão arterial desnecessariamente, e alimentou uma fúria que só fez mal a ele mesmo.
Nós seguimos nossos caminhos: eu, em paz, e ele, em guerra contra o mundo. O que ele fez foi totalmente desnecessário. Um lembrete de que o trânsito não é apenas um fluxo de carros, mas um espelho da nossa alma. E a impaciência, essa companheira incansável, nos rouba a paz e a sanidade, transformando uma simples viagem em um campo de batalha.