O tempo da lagarta

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A lagarta não nasce voando. Ela rasteja. Lenta, silenciosa, quase invisível. Vive no chão enquanto sonha com o céu. Seu voo não acontece de repente. Antes, ela precisa se recolher, desaparecer por um tempo, enfrentar a escuridão do casulo — aquele lugar onde nada se vê, mas tudo se transforma.

Com a gente é mais ou menos assim. A gente também não nasce pronto. Antes de realizar qualquer sonho, somos desafiados a passar por fases. Algumas belas, outras nem tanto. Fases que exigem paciência, esforço, fé. Fases em que o mundo parece seguir no ritmo de sempre, enquanto a gente está parado, lidando com dúvidas que ninguém vê.

Vivemos tempos em que tudo precisa ser rápido, visível, compartilhável. Mas a verdade é que os processos mais profundos são invisíveis. Crescer não dá ibope. Transformar-se exige silêncio. E o que amadurece cedo demais, corre o risco de não durar.

Nem sempre o processo é bonito. Há dias em que a vontade é desistir. Em que o casulo parece sufocar. Mas se a gente aguenta — se a gente respeita o tempo da alma — algo nasce ali dentro. Uma nova versão de nós mesmos. Mais forte, mais leve, mais preparada para o voo.

Porque, veja bem, a borboleta não pula etapas. Ela só voa quando está pronta.

E você? Talvez esteja no chão agora. Talvez esteja no escuro. Mas isso não é o fim — é só parte da sua metamorfose.

Quando for o momento certo… você também vai voar.