
O pavor pode se manifestar de diversas formas. Para alguns, é o medo de altura; para outros, o pavor de turbulência. Mas a imagem mais apavorante que eu já presenciei em um voo não foi nenhuma dessas. Ela veio de um flash de luz, durante a madrugada, sobre a imensidão escura da floresta amazônica.
Em um voo noturno da GOL, partindo de Brasília com destino à Ilha de Curaçao, a rota nos levou sobre o coração da Amazônia. Lá fora, o céu estava completamente fechado, e a aeronave mergulhou em um temporal. A escuridão era total, pontuada apenas pelo som da chuva batendo na fuselagem e o balanço suave do avião.
De repente, um raio rasgou o céu. Mas não foi um raio comum. Era um clarão intenso e branco que, por uma fração de segundo, transformou a escuridão em uma paisagem viva e aterrorizante. O flash iluminou a floresta abaixo, revelando a vastidão daquela mata. As copas das árvores pareciam um tapete infinito, sem nenhuma luz de cidade, estrada ou sinal de vida humana.
A cada novo relâmpago, a cena se repetia: o imenso vazio da floresta sendo revelado por um flash estroboscópico. A imagem era de uma beleza selvagem, mas a ausência de qualquer sinal de civilização era assustadora. Era como estar flutuando sobre um oceano de árvores, em meio a um show de luzes cósmicas, e entender, de forma visceral, a força da natureza e nossa própria pequenez diante dela.
A cena durou apenas alguns minutos, mas a imagem daquela mata infinita, iluminada por flashes de luz, ficou gravada na memória como a visão mais aterrorizante e impressionante que já tive dentro de um avião.