Sandra Bullock e a arte de não revidar

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Há dias em que o mundo parece provocar. A grosseria vem de graça, a injustiça bate à porta, o desrespeito escorre pelos cantos do dia como um café derramado que ninguém se deu ao trabalho de limpar. Nessas horas, a vontade de revidar salta do peito — como se o revide fosse um direito, uma reparação, um alívio.

Mas então vem a pausa. O respiro. E a lembrança de que dignidade não se negocia em troco de desaforo.

Sandra Bullock, com a sabedoria de quem viu muito e talvez também tenha sido muito ferida, disse algo precioso: “O mundo já cobra caro de quem vive ferindo os outros.” E é verdade. Há dores que não se vêem — mas que corroem por dentro. Quem distribui veneno carrega um estoque antigo de mágoas não curadas. Revidar seria apenas se contaminar.

Algumas batalhas, por mais barulhentas que sejam, não pedem espada. Pedem silêncio. Postura. Escolher não se igualar é, muitas vezes, o gesto mais nobre — e também o mais difícil. Porque dá trabalho manter a elegância quando a alma sangra. Mas é exatamente aí que mora a força.

Não é covardia. É coragem. É maturidade.

Cada um só oferece aquilo que carrega no peito. Se o outro te entrega pedras, que fique com elas. Você segue — inteiro. E leve.

Porque quem conhece o próprio valor não precisa gritar. Nem provar nada a ninguém.